Periferias e coronavírus: quando as problemáticas se tornam ainda mais evidentes. - COLETIVO CARA PRETA

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Periferias e coronavírus: quando as problemáticas se tornam ainda mais evidentes.

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Periferias e coronavírus: quando as problemáticas se tornam ainda mais evidentes.


Vista de uma escadaria lá no Alto José do Pinho - 2018.
Foto: Priscilla Melo ( @_olhospretos_fotografia )

Vivemos tempos difíceis, tempos de alarde mundial. Tempos em que enfrentamos ameaças extremas tanto visíveis como invisíveis. A pandemia causada pelo COVID-19, popularmente conhecido como Novo Coronavírus, tem causado pânico em diversos países do mundo e recentemente chegou até o Brasil. Cabe salientar que embora tenhamos ouvido por parte do presidente da republica e outras figuras, tão conhecidas quanto ele, que trata-se apenas de uma “gripezinha” de um “resfriado” não é com isso que estamos lidando pois o caso é bem mais grave. Pra quem insiste em levar em consideração os pronunciamentos desse criminoso deixo aqui um questionamento: uma "gripezinha" faria o mundo todo, aeroportos, eventos mundiais, como as olimpíadas, escolas e universidades públicas e privadas, e comércios em geral a parar ou serem adiados em função de uma simples gripe? Precisamos nos conscientizar de que estamos lidando com uma ameaça sem precedentes! Segundo o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, o coronavírus já se alastrou por quase todos os países do mundo. Os impactos são impressionantes mesmo em países considerados desenvolvidos, e desse modo aqui no Brasil tem-se adotados medidas para evitar ainda mais contágio pela doença. O Ministério da Saúde noticiou orientações para evitar a disseminação da doença onde poderão ser adequadas de acordo com cada realidade pelos gestores estaduais e municipais, pois projeta-se que sem a adesão dessas orientações os casos se dupliquem a cada três dias. Medidas, tidas enquanto simples, como lavar as mãos com sabão diversas vezes ao dia, uso de álcool em gel, e evitar aglomerações são extremamente difíceis de serem inclusas na realidade de quem mora nas periferias do país dividindo casas com cômodos estreitos, muitas vezes insalubres, sem acesso a qualquer tipo de saneamento, como água encanada e recolhimento diário do lixo, além de comportar uma quantidade de pessoas que vai bem além do possível. Mesmo que se busque focar ao máximo na situação das periferias do Recife e Região Metropolitana logo se perceberá que as dificuldades enfrentadas pelas demais favelas localizadas em todo o país são decorrentes da mesma problemática: ausência de políticas públicas e sociais. Se nos atentarmos ao menos por alguns instantes no curso de formação dessas periferias compreenderemos que ele resulta de tantos outros processos desencadeados no pós-abolição (higienização e marginalização social) o que nos levará a perceber que quem nelas vivem tem um perfil e mais ainda que esse mesmos processos são alimentados por um sistema de opressão: o racismo. Você deve estar se perguntando: como é que chegamos a falar sobre racismo se a pouco falávamos sobre o surto do coronavírus? Eu respondo: o racismo está em tudo, inclusive nisso. Ele será determinante na vida de pessoas negras, que hegemonicamente foram condicionadas a compor as periferias. O racismo é a raiz das desigualdades sociais que tantos brasileiros e brasileiras enfrentam e ele determina não só onde moramos, mas as condições em que moramos, se vamos ter emprego, se vamos ter alimento, se vamos ser considerados sujeitos e sujeitas de direitos e consequentemente se e como acessaremos os serviços públicos. Como se prevenir diante de tantos défcitis? Considerando os pronunciamentos do atual presidente da republica é notório quais são as prioridades desse governo que, diferentemente de outros tantos países, segue optando por nos relegar ao “Deus dará” reduzindo os danos que estão e poderão ser causados pelo alastramento dessa doença. Será mesmo que estão pensando em nós? É válido salientar que a defesa do governo vigente se resume a um Estado mínimo, onde há pouca intervenção, mas quando se trata de defender a economia o Estado se põe como máximo e irredutível. Conveniente não é mesmo? Me pergunto: o que será desse país com um governo que segue tendo como princípio e base de suas ações a ganância neoliberal?


Suzana Santos (@surhvivor)
Ativista do Coletivo de Juventude Negra Cara Preta e do Movimento Ocupe a Praça Camaragibe, Graduanda do curso de Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco, Pesquisadora na área de Desigualdades e Direitos Humanos e integrante do Grupo de Estudo de Ética em Serviço Social (GEPE).

27/03/2020

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